O acervo inédito deixado por Ariano Suassuna, que faria 90 anos nesta sexta (16), parece inesgotável. Além do já esperado “O Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores” (Nova Fronteira), que sai em 9/10, cinco novas peças do escritor estão por vir a público.

Os textos estavam entre manuscritos, ilustrações e pinturas deixados pelo escritor na casa onde viveu no Recife. O mais antigo e, segundo o pesquisador Carlos Newton Jr., “o mais importante” da fase anterior ao “Auto da Compadecida”, é de 1950.

O “Auto de João de Cruz” é uma adaptação do “Fausto” de Goethe e do cordel “A História do Estudante que Vendeu a Alma ao Diabo”.

Na peça, João de Deus vai, ainda em vida, para o lugar onde são julgados os mortos, numa antecipação da cena icônica do “Auto da Compadecida”. O texto só foi encenado uma vez, em 1958, por um grupo amador, no Recife.

Newton Jr. chama atenção para um dos raros textos do paraibano ambientado fora do sertão. “O Arco Desolado” (1952) –nunca encenado– é uma versão de “A Vida É Sonho”, do espanhol Calderón de la Barca (1600-1681).

No acervo também está “O Desertor de Princesa” (1958), uma reescrita de “Cantam as Harpas de Sião”, feita por Suassuna dez anos antes para o Teatro Popular do Nordeste.

Há ainda duas obras mais recentes, “As Conchambranças de Quaderna”, de 1987, e “A História do Amor de Romeu e Julieta”, de 1996.

A primeira, uma comédia, traz situações da vida do personagem central do romance “A Pedra do Reino”. “Ele usa possivelmente histórias que não conseguiu colocar no livro”, afirma Newton Jr.

Apresentada pela primeira vez em 1988, no Recife, a peça teve outras montagens. Já a adaptação do clássico de Shakespeare se tornou um experimento cênico no Recife e foi publicada pela Folha em maio de 1997.

O lançamento das peças inéditas de Ariano Suassuna pela Nova Fronteira faz parte do projeto editorial organizado pelo filho do escritor, o artista plástico Manuel Dantas Suassuna, com colaboração de duas netas, de Carlos Newton Jr. e do designer Ricardo Gouveia de Melo.

“Papai queria dar unidade à obra dele. Além de republicação de livros, sairão obras inéditas e algumas que fazem parte do universo de Suassuna, como ‘Ferros do Cariri – Uma Heráldica Sertaneja’, que ele fez década de 1970 e que só teve 500 exemplares.”

A primeira parte do lançamento dos escritos de Suassuna acontece na sexta (16), com lançamento, no Recife, da reedição do “O Romance da Pedra do Reino”, que ganhou nova capa, com ilustração inédita de Suassuna.

As dramaturgias inéditas começarão a ser lançadas a partir de 2018, numa série do teatro completo do autor. O acervo do escritor e dramaturgo ainda dará base a uma exposição itinerante, a “Ilumiara Ariano Suassuna”.

MUSICAL

Os 90 anos do escritor inspiraram ainda a nova montagem da companhia carioca Barca dos Corações Partidos. “Suassuna – O Auto do Reino do Sol”, que estreia nesta quinta (15) no Rio –e em São Paulo em outubro–, leva à cena personagens, frases e temas da obra do autor.

No musical, os jovens Iracema e Lucas vivem um amor à la Romeu e Julieta. Por isso, eles fogem com um circo a caminho de Taperoá (PB), onde Suassuna viveu na infância.

O dramaturgo Braúlio Tavares se inspirou em criações do paraibano, como a peça “A História de Amor de Fernando e Isaura”, e em obras que o escritor admirava.

“Há um pouco de Lorca e de referências a Dom Quixote e Sancho Pança”, conta. O dramaturgo também incluiu o vilão major Antônio Moraes –personagem do “Auto da Compadecida” e do “Romance da Pedra do Reino”.

O circo e os folguedos do Nordeste, paixões de Suassuna, são as bases da encenação assinada por Luís Carlos Vasconcellos, cuja trilha tem 16 canções, de autores como Chico César e Beto Lemos.

*Mateus Araújo, na Folha de S.Paulo.

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