Clubes de assinatura vendem livros e crescem acima de 30%
Criado em 1973, o Círculo do Livro atingiu seu ápice uma década depois, quando contava com 800 mil assinantes. A proposta era simples: os sócios recebiam uma revista a cada quinze dias com diversos títulos que poderiam escolher, sempre tendo a obrigação de comprar ao menos um deles. Em um mercado que vem colecionando números preocupantes ano após ano (já tinha apresentado uma redução no faturamento em 2015 e, em 2016, repetiu marca negativa, com queda real de 9,2%), uma proposta semelhante àquela do Círculo, que acabou em 2000, mas adaptada ao mundo digital, surge como uma interessante alternativa para se ganhar dinheiro com livros no Brasil: os clubes de assinatura.
A ideia é tão simples quanto à antiga: o cliente assina uma das diversas plataformas já existentes, cada uma com um foco diferente, e uma vez por mês recebe em sua casa um ou dois livros selecionados por uma equipe de curadores. O preço? Varia de R$34,90 a R$134,90 por kit.
Com seis frentes editoriais distintas (Leia Mulheres, Humor e Amor, Ficção, Poesia, Negócios e Infantil), a Garimpo nasceu em setembro do ano passado e desde então apresenta um crescimento superior a 30% ao mês. É Gustavo Barbeito, um dos responsáveis pela seleção das obras enviadas e idealizador do negócio, que explica as vantagens do formato para o consumidor: “Vão da praticidade de receber um produto em casa até a confiança que o leitor tem na figura do curador, passando pelo fato de que muitas cidades brasileiras não têm livrarias”, explica.
Barbeito ainda lembra que devido à quantidade de lançamentos do mercado editorial, muitas vezes o leitor fica perdido em meio às novidades “As grandes editoras lançam de 40 a 60 livros por mês, e ainda temos as editoras de médio e pequeno porte, muitas das quais não têm distribuição ou exposição em livrarias. Além disso, a mídia cultural literária é muito escassa, então muitos livros têm vida curta. O curador vem justamente para dar visibilidade a títulos que não estão nas listas de mais vendidos, que não estão nas vitrines das livrarias, e para apresentá-los aos leitores de uma forma mais pessoal, a partir de sua própria experiência de leitura, de seu envolvimento com os títulos selecionados”.
Quem já tem mais tempo de mercado e apresenta números sólidos de crescimento é a Leiturinha, especializada em livros para crianças. Fundada em 2014, fechou seu ano de estreia com mil assinantes, saltou para 10 mil em 2015 e atingiu 25 mil clientes em 2016. Para 2017, projeta um faturamento de R$30 milhões, o dobro do que faturou no ano passado. “O modelo de negócio é otimista em termos de fluxo de caixa e por garantir uma receita perene. Assim conseguimos trabalhar com foco no relacionamento, que é uma maneira muito mais eficiente de investir exatamente nas necessidades e interesses de cada cliente”, comenta Rodolfo Reis, CEO da empresa.
Ao falar das vantagens do clube para o leitor, Reis também bate na tecla da curadoria. “Um dos fatores mais importantes para que a criança sinta prazer na leitura é que o livro seja adequado à sua fase de desenvolvimento. As obras precisam ser acessíveis ao seu entendimento, além de despertar curiosidade. Por isso, recorrer a uma equipe de especialistas que seleciona o conteúdo adequado deve ser levado em consideração”, diz ele, que em seu time conta com pais, psicólogos e pedagogos que auxiliam na escolha dos livros selecionados entre mais de 150 editoras.
Mimos para os clientes – Outra empresa que alcançou um bom crescimento desde que surgiu foi a Tag, que oferece edições exclusivas de títulos selecionados por autores renomados, como Martha Medeiros, e prepara até uma edição com indicações do peruano Mario Vargas Llosa, Nobel de Literatura de 2010. Começaram em julho de 2014 e no mês seguinte enviaram o primeiro de seus kits para 65 assinantes, quase todos familiares e amigos. Hoje, os associados passam de 13 mil e se espalham por todos os cantos do país. Ao comentar o negócio que ajudou a fundar, Tomás Susin destaca uma outra característica comum entre os clubes: os brindes e conteúdos extras que disponibilizam aos clientes.
“Todos os meses, o associado recebe em casa uma caixinha com um livro indicado por um grande nome do cenário literário, uma revista para complementar à leitura, um marcador de página e um ‘mimo’. Durante e após a leitura, os associados podem discutir a obra do mês no aplicativo do clube, acompanhar os vídeos no canal da Tag no Youtube, ou ainda ler os textos no blog, que conta com três colunistas de peso, os escritores Carol Bensimon, Sérgio Rodrigues e Letícia Wierzchowski”.
Quem aposta forte no que vai além do livro em seu kit é a The Gift Box, que nasceu como um clube de assinaturas para mulheres e desde meados do ano passado começou a intensificar o seu lado literário. Com isso, acompanham a obra de autores como Bianca Carvalho e Leila Rego produtos dos mais diversos tipos: camisetas, objetos de decoração, maleta para apetrechos de maquiagem…
“Inicialmente, nossas assinantes recebiam no mês de seu aniversário um livro de presente e percebemos que elas gostavam desse mimo a mais. Assim, em abril de 2016, iniciamos um processo interno de estruturação para a atual filosofia do nosso clube de assinatura. Podemos dizer que a Bienal de São Paulo foi um grande divisor de águas. Para 2017, a The Gift Box estará mais ativa nos eventos geek e literários para divulgar a literatura, principalmente a brasileira, seja com editoras parceiras, seja com autoras independentes”, explica Roberta Teixeira, sócia e diretora da empresa.
A ideia dos clubes de assinatura há algum tempo faz sucesso nos Estados Unidos, onde o segmento fatura mais de US$10 bilhões por ano. Já no Brasil, segundo a Associação Brasileira dos Clubes de Assinatura, há cerca de 300 negócios do tipo, que, em 2016, faturaram algo em torno de R$400 milhões. Ainda que a associação não tenha números precisos de cada nicho desses clubes, garantem que os produtos que mais atraem consumidores são bebidas alcoólicas, alimentos, produtos de beleza e justamente os livros.
*Rodrigo Casarin, no Página Cinco.
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