Diferentemente do comunicado feito ontem pela matriz francesa, a filial brasileira da Fnac informou nesta quarta-feira, em comunicado, que não está saindo do Brasil. No texto, a varejista diz que iniciou um processo de busca por eventuais parceiros locais para reforçar sua operação no país. Desde o fim do ano passado, a Fnac passou a abrir lojas através da formação de joint ventures com parceiros locais para se expandir. Isso já aconteceu em países como Qatar e Marrocos.

“A operação brasileira precisa ter um tamanho crítico no sentido de ser relevante e reforçar sua posição de mercado. Devido a isso, a Fnac iniciou um processo ativo de busca de parceiro local para continuar e reforçar sua operação no país”, diz o comunicado da filial brasileira.

Atualmente, a operação brasileira da Fnac conta com 12 lojas, além das vendas online, e representa cerca de 2% da operação mundial da varejista. Há anos, a operação brasileira é deficitária e a busca por parceiros visa restaurar a rentabilidade da rede. A recessão que atingiu o país e fez encolher a renda dos brasileiros derrubou as vendas da varejista, que comercializa produtos culturais, como livros, DVDs, CDs além eletroeletrônicos.

Claudio Felisoni, presidente do Instituto Brasileiro do Varejo (Ibevar), explica que a crise econômica nacional tem derrubado sistematicamente as vendas no varejo geral desde o último trimestre de 2014. Como o negócio da Fnac é a venda de bens duráveis (eletrônicos) e itens ligados à cultura, a rede sofreu ainda mais com a crise, avalia.

— Para comprar bens duráveis é preciso que haja emprego ou confiança na manutenção do emprego, além de juro baixo e crédito. Não temos esse cenário no Brasil há alguns anos. Já os itens ligados à cultura são os primeiros cortados do orçamento quando a renda está menor. Essa situação levou a Fnac ao reposicionamento estratégico que será uma eventual saída do mercado brasileiro ou dividir o risco com um parceiro local — analisou Felisoni.

Para Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), embora o anúncio de reposicionamento no Brasil não fosse esperado, a manobra da matriz, de querer fechar uma operação que contribui pouco para o resultado total, é uma estratégia comum às multinacionais.

— Parece ser uma decisão corporativa. Como o mercado brasileiro é pouco representativo para a operação global da Fnac e acaba dando muito trabalho, assumem a postura de multinacional de encerrar a operação ou buscar um parceiro para concentrar forças onde está a principal parte do negócio — disse Terra.

De acordo com um porta-voz da empresa, por enquanto, não existe nenhuma conversa em andamento no Brasil. Se nos próximos dois ou três anos não for possível formar estas parcerias, aí sim a varejista poderá encerrar suas operações no país.

Um das possibilidades de parceria seria fechar acordos com shoppings centers que desejam ter uma unidade da Fnac em suas dependências. A Fnac já recebeu este tipo de proposta, mas antes não havia interesse. Agora, a rede vai passar a olhar com mais atenção esse tipo de associação, em que o próprio shopping banca a instalação da loja.

Desde o ano passado, a Fnac já vinha mudando no Brasil. Para tocar a operação no país, a empresa indicou Cláudia Elisa Soares, que trabalhou na AmBev, por 17 anos, Grupo Pão de Açúcar e Votorantim Cimentos. Ela foi contratada para reestruturar a operação, incluindo o varejo e as vendas online.

Sem conseguir reverter uma queda de 7,5% nas vendas no ano passado – praticamente o dobro de 2015 – a matriz contratou Arthur Negri, ex-presidente da Blockbuster, para substituir Cláudia.

A Fnac está no Brasil desde 1998, quando comprou o Ática Shopping Cultural, em Pinheiros, São Paulo, e no ano seguinte abriu sua primeira loja no mesmo endereço.

Numa conferência de imprensa realizada para apresentação dos resultados anuais do grupo, na terça-feira, a empresa relatou um resultado equilibrado (zero) em 2016, impactado pela aquisição da Darty, em julho passado, rede de lojas de eletrodomésticos, computadores, tevês e equipamentos de áudio. As vendas conjuntas aumentaram 1,9% para 7,41 bilhões.

A aquisição da Darty deve resultar em sinergias de € 130 milhões por ano, ao final de 2018. Mas existe preocupação por parte dos sindicatos franceses de que centenas de vagas sejam fechadas, já que a Fnac tem 8.816 funcionários na França e a Darty possui 10.337 empregados.

“Os resultados de 2016 da Darty Fnac são muito fortes e em crescimento. Todos os indicadores estão verdes”, escreveu o CEO da Fnac, Alexandre Bompard (foto), em comunicado.

*João Sorima Neto e Roberta Scrivano, em O Globo; Foto: Eric Piermont / AFP

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