Prêmio Oceanos aceitará livros em português de qualquer país
Eduardo Saron, Ana Sousa Dias, Manuel da Costa Pinto e Selma Caetano durante coletiva de imprensa para anúncio das mudanças no Oceanos
O Itaú Cultural anunciou na manhã desta quinta-feira (02/03/2017) a internacionalização do Oceanos — Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa. A partir deste ano, serão aceitos livros publicados em quaisquer países, contanto que escritos em língua portuguesa. Até o ano passado, eram aceitos apenas títulos de autores brasileiros e portugueses publicados no Brasil. As inscrições começam nesta sexta-feira e podem ser feitas por meio do site do instituto (www.itaucultural.org.br).
— Chegamos ao momento que eu tanto acalentava há muito tempo. Estamos eliminando três palavras do regulamento: “publicados no Brasil”. A partir deste ano, qualquer livro em língua portuguesa publicado em qualquer lugar do mundo no ano anterior ao prêmio poderá concorrer. Ficou muito mais fácil — disse Selma Caetano, durante coletiva de imprensa para anúncio das mudanças no Oceanos.
Como parte da ampliação do concurso literário, o Itaú Cultural apresentou também a crítica literária portuguesa Ana Sousa Dias, que passa a integrar o corpo de curadores com os brasileiros Selma Caetano, que coordena o grupo, e Manuel da Costa Pinto. A ideia, segundo o triunvirato de curadores, é possibilitar que obras brasileiras, portuguesas e africanas sejam representadas de forma mais ampla e concorram em igualdade de condições.
— Creio que as pessoas vão se surpreender com a quantidade e a qualidade dos livros portugueses que surgirão. Vai ficar mais complicado, mas vai ficar mais completo. Com a vantagem de termos esse mapeamento da cena literária em língua portuguesa — disse Ana Sousa Dias.
Ainda segundo os participantes da coletiva, livros editados em Brasil e Portugal que sejam inscritos pelas duas editoras serão considerados. Mas, segundo os curadores, para avaliação será considerada a primeira edição. No caso das edições simultâneas, o autor terá a prerrogativa de escolher qual será avaliada.
O processo de avaliação, em si, permanece inalterado, assim como o valor total dos prêmios em dinheiro (R$ 230 mil) e a distribuição entre os quatro vencedores (R$ 100 mil para o primeiro lugar, R$ 60 mil para o segundo, R$ 40 mil para o terceiro e R$ 30 mil para o quarto).
Os inscritos passam por três peneiras, sendo que todos os livros serão lidos. Na primeira etapa, os curadores indicam um júri de avaliação formado por 40 especialistas que, entre julho e setembro, leem todas as obras e indicam por meio de votação os 50 melhores. Na segunda, entre setembro e novembro, um júri intermediário, formado por seis integrantes eleitos pelo corpo de jurados da fase anterior, avalia os semifinalistas e elege os dez melhores entre eles. Na última etapa, os mesmos seis jurados escolhem os quatro vencedores.
O prêmio tem um custo total de cerca de R$ 1,4 milhão, dos quais R$ 800 mil são incentivados por Lei Rouanet e R$ 600 mil de modo direto pela instituição. Os valores incluem a premiação de R$ 230 mil.
Em dez edições, o Oceanos premiou cinco autores não-brasileiros. No ano passado, foram recebidas 740 inscrições, entre as quais estavam 14 livros de autores portugueses, dois de angolanos e um de um autor moçambicano. Os quatro vencedores foram pela ordem do primeiro ao quarto: “Galveias”, do português José Luís Peixoto; “A resistência”, de Julián Fuks; “O livro das semelhanças”, da poetisa mineira Ana Martins Marques, e o livro de contos “Maracanazo e outras histórias”, do jornalista carioca Arthur Dapieve.
Recentemente, Selma e Costa Pinto passaram 20 dias em Portugal conversando com editores locais sobre a premiação e foram recebidos pelo ministro português da Cultura, Luís Filipe de Castro Mendes. Com isso, a expectativa é de que o aumento no número de inscritos seja da ordem de 50%.
– Nessas conversas, os editores portugueses estimaram entre 200 e 300 inscrições de livros lusos a mais – disse Selma Caetano.
Costa Pinto acrescentou que a produção de poesia portuguesa também pode ganhar destaque.
– Portugal é o país da poesia. E há uma produção muito grande, inclusive de pequenas editoras – disse o crítico literário e curador do prêmio.
Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, disse que para este ano não haverá ampliação do prêmio em dinheiro, mas nãos descartou a possibilidade para o próximo ano.
– Estamos estudando isso para a edição de 2018 – disse ele.
*Alessandro Giannini, em O Globo.
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