Shopee começa a se destacar na venda de livros
Uma das perguntas da pesquisa Panorama do Consumo de Livros, divulgada em dezembro por CBL e Nielsen, era: “Em qual site de livraria, app/site você fez a sua última compra de livros impressos?”. A terceira loja mais citada, atrás apenas de Amazon e Mercado Livre, foi a Shopee. Logo atrás dela, estavam Saraiva e Americanas, em posições que agora tendem a ser ocupadas por outras lojas.
Em pouco tempo, a Shopee se consolidou como marketplace local: foi em setembro de 2019 que a loja começou sua operação no país como empresa brasileira. Atualmente, são mais de 3 milhões de vendedores brasileiros registrados, responsáveis por mais de 90% dos pedidos. Além disso, 9 em cada 10 dessas vendas são de uma loja com CNPJ. Mais de 95% dos pedidos são realizados via aplicativo, segundo a empresa.
Um time dedicado à categoria de livros faz o gerenciamento dos principais vendedores do segmento, entre editoras, livrarias e distribuidoras. A equipe é responsável pelo desenvolvimento das lojas dentro da plataforma, com o objetivo de engajamento e aumento das vendas. De acordo com dados da própria Shopee, nos últimos 60 dias, houve aumento de mais de 40% na busca pelo termo “livro”. Em janeiro deste ano, comparado com 2023, houve um aumento de mais de 115% nas vendas de livros.
Uma das principais lojas oficiais de livros na plataforma é a da Plenitude Distribuidora, de Campinas (SP). Focada no segmento de livros religiosos, a marca recebeu mais de 300 mil pedidos pela Shopee em 2023, e a meta para 2024 é de 1 milhão de pedidos. A plataforma já é a segunda maior para a Plenitude, que também desenvolve ações de marketing – como lives de lançamento de livros, atreladas a cupons de desconto – dentro da própria aplicação.
“Começamos como loja oficial ano passado, o que aumentou muito a quantidade de pedidos”, explica o gerente de marketplace da Plenitude, Lucas da Silva. “A gente trabalha com Bíblias e livros a preços bem baixos, e na Shopee atingimos um público diferente da Amazon, por exemplo. O público da Shopee busca mais o custo menor… e é isso que vemos como grande potencial”.
Ele explica que as promoções e cupons de desconto são um grande atrativo para os clientes, bem com a política bastante flexível de frete grátis. “Para quem vende livro, a briga é o frete. Dependendo de onde a pessoa mora, o frete sai mais caro que o produto, e aí o canal é a Shopee”, explica.
A Livraria Snotra, criada em outubro de 2020 com a proposta de oferecer livros a preços acessíveis, tem na Shopee 70% das suas vendas em marketplace. O proprietário da Livraria, Carlos André Paiva Fernandes, atribui o alto percentual a dois fatores, mas especialmente ao frete grátis.
“A Shopee permite negociar o preço do livro com o cliente… O cliente gosta de barganhar. Então, sempre que possível, a gente concede descontos quando não vai afetar muito a nossa margem. E a Shopee tem a campanha do frete grátis. Hoje, para conseguir um frete grátis na Amazon, por exemplo, precisa assinar o Prime. E muita gente não está disposta a isso. Embora tenha as vantagens de ter um streaming atrelado e outros benefícios também, mas falando em assinatura, muita gente não faz. No Mercado Livre é parecido. Muita gente não está interessada nisso. Na Shopee, não tem esse vínculo de ter que fazer nenhuma assinatura para poder ter o frete grátis. Creio que esse seja o grande atrativo”, explica.
Criada em São Gonçalo (RJ) como loja exclusivamente virtual, a livraria iniciou suas operações de marketplace com Mercado Livre e Amazon. “Mas a Shopee estava crescendo muito nesse período e resolvemos arriscar mesmo tendo aquela sensação de que poderia não ser uma boa plataforma, pois havia muitos eletrônicos sendo anunciados e quase não havia livros. Para nossa surpresa, no final do ano de 2021, a Shopee representou 86% do nosso faturamento”, comenta. Atualmente, a loja trabalha com os principais marketplaces disponíveis.
O livreiro afirma, por outro lado, que a não utilização dos Correios como canal de envio pela Shopee dificultou um pouco o atendimento direto aos clientes que compram pelo marketplace. Atualmente, a Shopee utiliza parceiros logísticos e centros de distribuição próprios.
Contexto – O professor da pós-graduação em e-commerce da ESPM, Alexandre Marquesi, explica que a Shopee chegou ao mercado brasileiro num momento em que produtos importados de até R$ 500 não eram tributados, cenário onde conseguiu se diferenciar com custos muito vantajosos.
“Quando ela foi tributada, começou a ter uma recessão de fornecedores. E ao mesmo tempo teve que abrir fornecedores brasileiros. Então, ela é um grande player hoje no mercado brasileiro, pode ser vista como um grande dealer daqui pra frente”, explica. Ao mesmo tempo, ele nota que Amazon e Mercado Livre têm mais bem definidos e estruturados sua estrutura logística interna, modelos de urbanização, processo de precificação e tributos, entre outros fatores. “A Shopee é uma grande ‘ameaça’ a esses competidores? Claro que é, mas ela ainda tem muito a percorrer para chegar próximo desses universos”, analisa.
Quanto ao mercado de livros especificamente, o especialista sublinha que a Amazon ainda detém o pódio de maneira mais ou menos incontestável, até por oferecer serviços como a estrutura do Kindle e outros. “A minha leitura é que a Shopee é um competidor bom, sim, mas tem algumas estruturas ainda a serem desenvolvidas. Inclusive eles já têm um centro de distribuição aqui em Cajamar, muito bom, compete muito bem com os outros players, mas ela não tem uma estrutura total instaurada ainda. Nem sei se precisa ter, mas ela precisa sim ter competitividade em preço, logística, tributação e outros fatores”, conclui.
*PUBLISHNEWS, GUILHERME SOBOTA, 07/02/2024