Um Brasil que não lê livro-na-praia

“Um país se faz com homens e livros”: a frase, de um dos nossos maiores escritores, Monteiro Lobato (1882-1948), retrata bem a situação do Brasil, atualmente, mas em seu anverso. O mesmo escritor ainda frisou com lucidez: “quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê.” No Brasil contemporâneo, o que vemos é exatamente isso ao contrário: poucos leem, a maioria mal ouve, mal vê, e se deixa levar pela lei do menor esforço, refletindo uma estrutura educacional falida, que não dá condições para o pleno desenvolvimento intelectual de gerações inteiras. Como bem disse o grande escritor, que se envolveu em polêmicas e produziu uma coleção de livros infantis ainda hoje atuais, um país precisa de homens letrados para que possa ser efetivamente uma nação.

De acordo com uma pesquisa da Fecomércio/RJ (Federação do Comércio do Rio de Janeiro) sobre os hábitos culturais do brasileiro, divulgada há alguns dias, sete em cada dez brasileiros não leram um livro sequer no ano passado. O levantamento foi feito em 70 cidades de nove regiões metropolitanas. O uso da internet, facilitado pelos smartphones, é apontado na pesquisa como um dos responsáveis pela queda na leitura, principalmente entre os jovens. A resposta da maioria dos entrevistados é que eles não leem ou não frequentam atividades culturais por falta hábito. Mas, para os pesquisadores, a situação econômica do país também interfere no lazer dos brasileiros e muitos consumidores concordam com isso.

O brasileiro, principalmente os mais jovens, também não mantém o hábito de ler jornais e revistas. Nem a Internet é utilizada para ampliação de conhecimento. Antes de tudo, é usada para atividades de comunicação em redes sociais. Muito do descaso com a literatura, e com as artes em geral, conforme a pesquisa revelou, é um reflexo da própria cultura do brasileiro, onde o consumo da arte é considerado artigo de luxo dispensável. Além disso, o grande número de analfabetos funcionais (que sabem ler e escrever, mas não têm a compreensão do que está escrito), em razão do nosso sistema de ensino falho, aumenta ainda mais o problema.

A leitura promove o senso crítico, a capacidade de refletir e confrontar. Quem lê é capaz de entender o seu cotidiano e compreender as influências – políticas, econômicas e sociais – que o modificam. A partir do momento em que houver maior incentivo, inclusive com preços mais acessíveis dos livros, o brasileiro terá mais condições de se dedicar à leitura. É necessário criar uma cultura de estímulo capaz de atrair quem hoje não se interessa pela literatura. E isto deve começar no Ensino Fundamental, promovendo-se um hábito que amplia os horizontes, a imaginação e a capacidade de pensar que serão úteis por toda a vida. Hoje faltam políticas de estímulo de parte do poder público. As iniciativas são normalmente isoladas e esporádicas. Precisariam ser ampliadas, replicadas, tornando-se práticas perenes. Só assim poderíamos, em futuro próximo, mudar o País, contribuindo para torná-lo respeitado no âmbito de outras nações onde a reflexão crítica da população induz a processos de mudança positiva da sociedade.

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