Scholastique Mukasonga é confirmada na Flip 2017
Autora vem pela primeira vez ao Brasil e terá dois livros, Nossa Senhora do Nilo e A Mulher dos Pés Descalços, traduzidos no país
“O genocídio de Ruanda fez de mim uma escritora. Em 2004, quando tive coragem de ir à minha cidade-natal tomei consciência do meu compromisso com a memória, porque eu podia escrever.” Uma das vozes africanas mais premiadas hoje, Scholastique Mukasonga sobreviveu ao genocídio de Ruanda e, estabelecida na França, tornou-se escritora. Primeiro influenciada pela literatura da Shoah, iniciou uma série de livros autobiográficos com estreita ligação com a tragédia em seu país natal. Em 2010, publicou seu primeiro romance, Nossa Senhora do Nilo, vencedor do Ahmadou-Kourouma e do Renaudot, em 2012. A vida em Ruanda, os conflitos étnicos que culminaram com o genocídio em 1994, a família e a atuação feminina na reconstrução do país – Ruanda é hoje o único país do mundo a ter maioria feminina no Parlamento – compõem a ficção da escritora, que vem ao Brasil pela primeira vez para participar da Flip 2017, que acontece de 26 a 30 de julho em Paraty.
A autora – Nascida em 1956, Scholastique Mukasonga conviveu desde a infância com a violência e a discriminação oriundas dos conflitos étnicos em seu país. Em 1960, sua família foi forçada a ir viver em Bugeresa, uma das áreas mais pobres e inóspitas de Ruanda. Anos depois, Mukasonga foi força a deixar a escola de serviço social em Butare e ir viver em Burundi.
Dois anos antes do genocídio em Ruanda, Mukasonga mudou-se para a França, onde vive até hoje e publicou, pela Gallimard, o livro autobiográfico Inyenzi ou les Cafards,que marcou sua entrada na literatura, em 2006. Foram publicados na sequencia La femme aux pieds nus, em 2008, e L’Iguifou, em 2010.
Seu primeiro romance, Notre-Dame du Nil, será publicado no Brasil com o título Nossa Senhora do Nilo e tradução de Marília Garcia pela Nós, por ocasião da Flip, marcando a estreia da autora no mercado brasileiro.
Ganhador dos prêmios Ahamadou Kourouma e do Renaudot em 2012 e dos prêmios Océans France Ô, em 2013, e do French Voices Award, em 2014, o romance se passa em Ruanda, num colégio de Ensino Médio para jovem meninas, situado no cume Congo-Nilo a 2500 metros de altitude, perto das fontes do grande rio egípcio, onde garotas de origem Tutsi são limitadas a 10% do corpo de alunos.
Além de Nossa Senhora do Nilo, a Nós publicará – também com tradução de Marília Garcia – o romance-memorialista La femme aux pieds nus (A Mulher de Pés Descalços), sobre o relacionamento da autora com sua mãe, que morreu com os pés descalços – contrariando a tradição local – pela ausência da filha.
“Scholastique Mukasonga é uma nova voz da África estabelecida com prestígio no circuito literário francês, o que quer dizer que temos livros que merecem ser lidos pela grande qualidade e, além disso, também temos uma autora com uma história de vida interessante e admirável de conhecer”, afirma a curadora da Flip 2017, Joselia Aguiar.
“A estreia da Scholastique Mukasonga no Brasil não poderia acontecer em um momento mais propicio, no qual o país se defronta com uma série de divisões que esgarçam o tecido social”, afirma Mauro Munhoz, diretor-geral da Flip. “A vinda da Scholastique permitirá a experiência de compreender a presença feminina na política em um contexto muito particular, como o de Ruanda.”
Flip 2017 – A 15ª edição da Flip, com curadoria de Joselia Aguiar, homenageia o autor de “Recordações do escrivão Isaías Caminha” e Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto, e já tem confirmados os nomes de Marlon James e Diamela Eltit.
Patronos 2017 – O Programa de Patronos é um plano de mecenato voltado a pessoas físicas que apoiam a realização da Festa Literária Internacional de Paraty.
Além de contribuir para a viabilização dos 5 dias de evento, o patrono fomenta as ações educativas de permanência promovidas pela Flip no território.
Os benefícios incluem ingressos para a Programação Principal da Flip, convites para o coquetel de boas-vindas com a participação dos autores, e encontros com a curadora e com o diretor-geral da Flip, entre outras atividades.
Mais informações pelo e-mail patronos@casaazul.org.br.
Quem faz a Flip – A Casa Azul é uma organização da sociedade civil de interesse público e sem fins lucrativos que desenvolve projetos nas áreas de arquitetura, urbanismo, educação e cultura. Há mais de vinte anos, desenvolve ações capazes de potencializar importantes transformações no território, a exemplo da Flip. Em Paraty, onde a associação se originou, esse processo levou à realização de ações de permanência, como a Biblioteca Casa Azul e o Museu do Território de Paraty, que seguem em funcionamento durante todo o ano.
Patrocínio – A programação da Flip é realizada por meio da lei de incentivo à cultura do Ministério da Cultura do Governo Federal e conta com patrocínio do Itaú e de outras empresas e organizações em vias de captação.
Serviço: A Flip 2017, que acontece de 26 a 30 de julho em Paraty (RJ).
*Fote: IguaiMix; foto: C. Hélie © Editions Gallimard.
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